A História de Ferreira Gomes: Trilhos, Águas e a Energia que Moldou a Amazônia
A identidade de Ferreira Gomes é um fascinante mosaico esculpido pela força da natureza e pela ambição humana. Para realmente entender a cidade, é preciso mergulhar em sua história, que flui tão intensamente quanto as águas do Rio Araguari, o verdadeiro protagonista desta jornada. A cidade não apenas nasceu às suas margens, mas foi reinventada por ele ao longo do tempo, transformando-se de um pequeno ponto de apoio na floresta a um dos corações energéticos do Amapá.
Dos Povos Originários à Rota do Manganês
Antes dos mapas e das ferrovias, a região que hoje conhecemos como Ferreira Gomes era um território vivo, percorrido por povos indígenas que navegavam o Rio Araguari e viviam em harmonia com a floresta densa. Essa dinâmica ancestral começou a mudar drasticamente em meados do século XX, com um dos projetos mais audaciosos da Amazônia: a construção da Estrada de Ferro do Amapá (EFA). Nascida para transportar o valioso manganês extraído de Serra do Navio, a ferrovia rasgou a mata e estabeleceu um ponto logístico estratégico que foi batizado de “Paredão”. Esse acampamento pioneiro rapidamente atraiu uma onda de trabalhadores, aventureiros e famílias, dando origem a um povoado vibrante, movido pelo apito do trem e pela promessa de progresso.
O Gigante Adormecido Desperta: A Era das Hidrelétricas
Se a ferrovia foi a centelha que deu vida ao povoado, a força das águas do Rio Araguari foi o que o transformou em cidade. A partir da década de 1970, Ferreira Gomes entrou em uma nova era com a construção de um complexo de usinas hidrelétricas. A primeira, Coaracy Nunes, foi um marco para a autonomia energética de todo o estado. Nas décadas seguintes, as usinas Ferreira Gomes e Cachoeira Caldeirão consolidaram a vocação da cidade como polo gerador de energia. Esse ciclo de grandes obras trouxe um novo fluxo de investimentos e mão de obra, acelerando a urbanização, mas também redesenhou a paisagem de forma permanente, criando grandes lagos e alterando ecossistemas. Essa dualidade entre desenvolvimento e impacto ambiental é uma parte crucial da história local e visível até hoje.
Um Novo Horizonte: Entre a Energia e o Ecoturismo
Com uma identidade já consolidada, o distrito finalmente conquistou sua autonomia política em 17 de dezembro de 1987, tornando-se o município de Ferreira Gomes. Hoje, a cidade vive um novo capítulo de sua história, buscando equilibrar seu legado industrial com seu imenso potencial para o turismo sustentável. O mesmo Rio Araguari, antes domado para gerar energia, revela-se como um destino espetacular para o ecoturismo e o turismo de aventura. Suas cachoeiras, lagos e a biodiversidade exuberante que o cerca são os novos tesouros da região. Visitar Ferreira Gomes é testemunhar essa transição fascinante, onde a memória dos trilhos e a força das turbinas convivem com a beleza selvagem da Amazônia, oferecendo uma experiência única e autêntica.
Dicas Rápidas para Entender a Cidade
- O Rio é o Protagonista: Lembre-se que o Rio Araguari é a chave de tudo aqui. Ele foi via de transporte, tornou-se fonte de energia e hoje é o principal atrativo turístico e de lazer.
 
- A Herança Ferroviária: Embora a ferrovia não opere mais com o mesmo vigor, sua memória vive na cultura local. Procure por vestígios da antiga EFA e converse com os moradores sobre sua importância.
 
- Energia e Natureza Lado a Lado: A paisagem com grandes lagos artificiais é resultado direto das hidrelétricas. Entender essa intervenção ajuda a compreender a dinâmica ecológica e geográfica da região.
 
- Uma História em Cada Canto: Converse com os moradores mais antigos sobre os tempos do povoado de “Paredão”. As histórias pessoais são a melhor forma de se conectar com a alma de Ferreira Gomes.