A Saga de Xapuri: Da Revolução à Resistência Verde
Mais do que um simples ponto no mapa amazônico, Xapuri é um palco onde capítulos cruciais da história do Brasil foram escritos. Sua trajetória é uma narrativa de coragem, conflito e uma profunda conexão com a floresta, marcada por dois grandes movimentos que a projetaram para o cenário nacional e mundial. Entender sua história é a chave para vivenciar a alma desta cidade resiliente.
O Berço da Revolução Acriana
No final do século XIX, a febre do “ouro branco”, como o látex era conhecido, atraiu milhares de seringueiros brasileiros, majoritariamente nordestinos, para as densas florestas que então pertenciam à Bolívia. A crescente presença brasileira e a imposição de impostos por parte das autoridades bolivianas criaram um barril de pólvora. Foi em Xapuri que a faísca se acendeu, tornando-se o coração da Revolução Acriana. Liderados pelo gaúcho Plácido de Castro, os seringueiros pegaram em armas, travando batalhas decisivas que culminaram na proclamação do Estado Independente do Acre, com Xapuri como sua capital. A saga terminou com a assinatura do Tratado de Petrópolis em 1903, que anexou oficialmente o território ao Brasil e consolidou a cidade como um vibrante centro administrativo e comercial, de onde a riqueza da borracha e da castanha fluía pelo Rio Acre.
A Luta Pela Floresta e o Legado de Chico Mendes
Décadas mais tarde, um novo conflito redefiniu a identidade de Xapuri. Com o declínio do ciclo da borracha, a fronteira agrícola avançou com a promessa do gado, trazendo consigo o desmatamento em larga escala. Desta vez, a luta não era por território, mas pela própria sobrevivência da floresta. Foi nesse cenário que emergiu a figura de Chico Mendes, um seringueiro e líder sindical que organizou os “empates”: manifestações pacíficas onde homens, mulheres e crianças se colocavam à frente das motosserras para impedir a derrubada. Sua luta transcendeu as fronteiras do Acre, propondo um novo modelo de desenvolvimento baseado na floresta em pé: as Reservas Extrativistas. A notoriedade internacional, no entanto, teve um preço trágico. Seu assassinato em 1988 chocou o mundo e transformou Chico Mendes em um mártir e símbolo global da defesa da Amazônia.
Um Legado Vivo: História e Natureza Hoje
Hoje, Xapuri carrega com orgulho esse duplo legado. A cidade convida os visitantes a uma jornada no tempo, onde a arquitetura dos casarões antigos ainda ecoa a opulência da era da borracha e os monumentos celebram os heróis da revolução. Ao mesmo tempo, é um centro de referência para o socioambientalismo. O espírito de Chico Mendes vive na cultura local, nas cooperativas de produtos da floresta e nas áreas protegidas que a rodeiam. Visitar Xapuri é mais do que turismo; é uma imersão em uma história de resistência que continua a inspirar o debate sobre o futuro da Amazônia e do planeta.
Dicas rápidas para explorar a história local:
- Explore o centro histórico a pé para observar a arquitetura do início do século XX e sentir a atmosfera da época do Ciclo da Borracha.
- Visite os locais que marcam a vida e a luta de Chico Mendes para uma compreensão mais profunda de seu impacto e legado.
- Converse com os moradores. Muitos são descendentes diretos de seringueiros e revolucionários, guardando memórias e histórias que não estão nos livros.
- Para uma imersão completa, considere combinar o roteiro histórico na cidade com uma visita guiada a uma reserva extrativista ou a uma colocação de seringa na zona rural próxima.