Uma Jornada Pelas Raízes de Feijó: Da Borracha ao Açaí
A história de Feijó é uma saga amazônica, tecida nas margens sinuosas do Rio Envira e impulsionada pela resiliência de seu povo. Compreender seu passado é a chave para desvendar a alma de uma cidade que soube se transformar, trocando o ciclo do “ouro branco” da borracha pela era do “ouro roxo” do açaí, sem jamais perder sua essência ribeirinha e extrativista.
O Ciclo da Borracha e a Fundação na Floresta
No final do século XIX, a febre da borracha ecoava pelo mundo e atraía desbravadores para os rincões mais profundos da Amazônia. A bacia do Rio Envira, com suas seringueiras nativas, tornou-se um destino cobiçado. Foi nesse cenário que migrantes, majoritariamente nordestinos fugindo da seca, chegaram para trabalhar como seringueiros. Eles estabeleceram as “colocações” — pequenas unidades de extração de látex — e, em 1886, fundaram o Seringal Porto Alegre, o embrião que daria origem à cidade de Feijó. A vida era dura, marcada pelo isolamento e pela profunda conexão com os ritmos da floresta e do rio.
Desenvolvimento, Isolamento e a Vida Ditada Pelos Rios
Com o crescimento da atividade extrativista, o pequeno povoado ganhou importância estratégica e econômica. Em 13 de maio de 1906, foi oficialmente elevado à categoria de vila e, posteriormente, a município, batizado em homenagem ao influente político e regente Diogo Antônio Feijó. Por muitas décadas, o Rio Envira foi a única via de acesso, a “estrada líquida” que conectava Feijó à capital, Rio Branco, e ao restante do Brasil. Barcos e batelões eram responsáveis por transportar mercadorias, pessoas e notícias, ditando o ritmo da vida social e comercial. Essa fase consolidou uma cultura ribeirinha única, moldada pela dependência mútua e pela sabedoria de viver em harmonia com as cheias e secas do rio.
A Reinvenção: A BR-364 e a Vocação do Açaí
A construção e pavimentação da rodovia BR-364 representaram a maior transformação na história recente de Feijó. A estrada rompeu o longo isolamento terrestre, integrando o município de forma definitiva à malha viária do Acre e do Brasil. Com o declínio da economia da borracha, a cidade precisou encontrar uma nova vocação. A resposta estava, mais uma vez, na floresta. Aproveitando o conhecimento extrativista de gerações, Feijó se tornou um dos maiores produtores de açaí do estado, ganhando com orgulho o título de “Capital do Açaí”. Hoje, a cidade celebra essa identidade com um grande festival anual, que une sua herança histórica a um futuro promissor, baseado na bioeconomia, na agricultura sustentável e no crescente turismo cultural e de natureza.
- Dicas rápidas para mergulhar na história local:
- Converse com os moradores mais antigos: A história de Feijó é viva na memória de seu povo. Uma boa conversa em uma praça ou na beira do rio pode revelar relatos fascinantes sobre os tempos da borracha e da vida antes da estrada.
- Explore as margens do Rio Envira: Caminhar pela orla permite imaginar a época em que toda a vida da cidade se concentrava ali, com barcos chegando e partindo. Observe a arquitetura de algumas casas mais antigas, que ainda guardam traços desse período.
- Visite durante o Festival do Açaí: Para entender a transição da borracha para o açaí, participe da festa. É uma celebração que conecta o passado extrativista ao presente vibrante da cidade.
- Experimente a culinária regional: Muitos pratos locais refletem a história de subsistência e aproveitamento dos recursos da floresta. Provar um açaí autêntico ou um peixe de rio é saborear um pedaço da história de Feijó.